quinta-feira, outubro 21

Daniel Sampaio e Memórias do Futuro



«(...) Quando eras criança tudo era diferente: a minha energia era maior e os teus planos mais ambiciosos. Imaginavas viagens a lugares que descobrias na internet, pensavas que te iria acompanhar para sempre. Sem a noção do tempo, projectavas o teu futuro comigo e com os teus pais e irmã. Até ao dia do hospital,
Disseste à mãe de um colega (soube-o mais tarde) que o hospital proibia a visita de crianças com menos de dez anos, uma decisão acertada mas que para ti não fazia qualquer sentido. Por estar muito doente, dizias, não me irias voltar a ver. Sai pelos teus pais que te inquietavas comigo, na escola e em casa: dorido na alma e no corpo pela cirurgia, gostei de te sentir junto a mim. Nunca mais falámos no assunto. Quatro anos depois, vi o desenho do teu primo: eu na cama do hospital, a família à minha volta: à espera do meu regresso ou a antever o meu fim, como receaste.
Afonso, ainda não doi dessa. Vinte anos depois aqui está o teu avô. Exames médicos, que a cada seis meses aguardo com angústia crescente, dizem que está tudo bem. Acho que também detestas hospitais. Eu fiquei a odiá-los antes de lá ir parar.» pg. 18/19, "Memórias do Futuro, narrativa de uma família", de Daniel Sampaio.

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