quinta-feira, abril 15
Paulo Kellerman de regresso à Arquivo...
ACERCA DO LIVRO:
Chega de Fado, o quarto volume de contos de Paulo Kellerman editado pela Deriva, representa a consolidação do percurso discreto mas sólido, em diversos aspectos ímpar, que este escritor tem vindo a desenvolver. Explorando ao máximo as potencialidades da narrativa breve e marcado por uma construção original, Chega de Fado é um livro habitado por vinte personagens que, unidas em duplas, compõem os dez “capítulos” que o formam: em cada um destes “capítulos” [verdadeiros esquissos de potenciais romances], as estórias vão-se sucedendo sob diversas formas narrativas [contos, micro-narrativas, diálogos dramáticos], e evoluindo ou desevoluindo até à inevitável, e por vezes inconsequente, confrontação final.
Desta multiplicidade de estórias, formatos e vozes nasce uma radiografia desapaixonada e incisiva do quotidiano, um retrato cru dos gestos e dos silêncios, das banalidades e das frustrações, das esperanças e dos secretismos que atravessam as relações e caracterizam a precariedade e imprevisibilidade dos comportamentos e sentimentos de todos nós. Numa escrita elegante e sensível, Paulo Kellerman compõe ambientes urbanos e impessoais perpassados pela omnipresença da incomunicação e da melancolia, ambientes sombrios povoados por seres ávidos de intimidade e compreensão mas incapazes de alcançar uma qualquer forma de felicidade, mesmo que transitória. Ambientes saturados de pessimismo e desânimo, de apatia e solidão, de impotência, de desconforto existencial; até que alguém se insurge e grita chega de repetição e passividade e monotonia, chega de lamúria; chega de fado.
PAULO KELLERMAN nasceu em 1974 (Leiria). Publicou os primeiros contos durante a década de noventa na imprensa regional e nacional (passando, por exemplo, pelo histórico DN Jovem), tendo posteriormente editado diversas edições de autor de cariz artesanal; em 2001 é publicado pela Colibri uma colectânea de micro-narrativas [Miniaturas], consolidando assim um longo e fértil período de experimentação literária. A partir de 2005 passa a ser editado pela Deriva, desenvolvendo o seu peculiar percurso na literatura portuguesa marcado pela exaustiva exploração de possibilidades das diversas formas de narrativa breve. A sua obra é composta pelos títulos Gastar Palavras (distinguido pelo Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco, da APE, em 2005), Os Mundos Separados que partilhamos (2007), Silêncios entre nós (2008) e Chega de Fado (2010). Paralelamente, mantém activo o blogue A Gaveta do Paulo, que tem funcionado como um verdadeiro laboratório de escrita, público e interactivo, enquanto lhe permite manter uma relação estreita com os seus leitores.
Revelando uma grande coerência e solidez temática, a sua obra evidencia-se pela forma cirúrgica e desapaixonada, crua mas clarividente, como espelha as banalidades e as contradições, perplexidades e frustrações, dúvidas e incomunicações que caracterizam a existência quotidiana, forçando frequentemente o leitor a confrontar-se consigo próprio.
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