quarta-feira, março 28


SEMPRE FOI ASSIM E SEMPRE ASSIM HÁ-DE SER
A Terra gira sobre ela própria e à volta do Sol. Sempre foi assim e sempre assim há-de ser.
Crescemos a pensar na imutabilidade das coisas. Aprendemos a gostar das coisas que sempre ali estiveram e daquela forma. O tempo fez-nos apaixonar pelo que não se altera, pelo que se mantém estável, pelo que não nos atraiçoa. Sentimo-nos seguros com o que conhecemos.
A globalização e os grandes centros de distribuição, iguais em todo lado, vieram mudar um pouco este paradigma. Os mesmo locais com os mesmo produtos, em diferentes sítios do mundo. Tanto importa comprar aqui como lá. Mas é impessoal. Frio.
No entanto há resistência. Há coisas que nunca mudam, ou se mudam, é numa adaptação ao prazer que já antes se transmitia.
Gosto de entrar numa livraria e poder cheirar o papel dos novos livros. Gosto de poder observá-los, folheá-los, lê-los, pegar-lhes. Gosto de ter liberdade de escolha, de poder ver para além das tabelas de vendas e das modas e das tendências. Gosto da calma e do silêncio. Do respeito. De falar com quem sabe, de um conselho, de uma procura. De encontrar um clássico, uma novidade, um fundo de catálogo. Gosto de experimentar novas leituras que venham ao meu encontro. Gosto de partilhar descobertas.
Gosto de poder beber um café a ler um jornal, a folhear uma revista, a ler uma badana. De ouvir a conversa do lado acerca de um livro, um autor, uma ideia, uma forma.
Gosto de sentir que por mais que lá fora o trânsito se agigante, as pessoas se apressem e a vida corra desenfreada, aqui dentro, nesta livraria, o tempo corre para mim, suave, permitindo-me aceder aos meus prazeres. Com calma. Com vontade.
Pelo menos enquanto a Terra gira à volta dela própria e à volta do Sol. Como sempre foi e sempre será.
Alexandra Vieira, Livraria Arquivo, Leiria

1 comentário:

José Fernandes dos Santos disse...

Não está sozinha neste desabafo muito actual. Mas não é fácil resistir à velocidade da vida actual. Cumpts